7.3.08

O Cinema Fantástico

Parte 2:
A Era Hitchcock, os filmes B e o exorcista



Muito bem, relembramos grandes filmes, mas nada de OSCAR até agora, certo? Na verdade, alguns filmes de fantasia conseguiram ser premiados, mas geralmente em categorias técnicas como som ou efeitos especiais (O FANTASMA DA ÓPERA e GUERRA DOS MUNDOS), e muitos achavam que era o máximo que o gênero poderia conseguir. Não havia um ator ou diretor de filmes dramáticos que migrasse para um filme de terror ou ficção e que recebesse reconhecimento. Até mesmo o mestre do suspense, Alfred Hitchcock.

Antes disso, deixem-me fazer um parêntese. Os americanos usam um termo para definir o filme dito thriller (que vem de "to thrill", emocionar, provocar emoções, ou seja, é um filme que provoca emoções fortes, até arrepios, se for o caso). Na falta de melhor nome, usa-se no Brasil o termo suspense, que é realmente outra coisa. Era Hitchcock quem fazia a definição. O filme é de mistério policial quando há um assassinato e você acompanha a investigação, até a revelação final, sabendo das mesmas informações que os personagens. É suspense quando o espectador sabe mais que os personagens. Ele vê o criminoso e fica torcendo, aflito, nervoso com o que sabe que vai acontecer e não tem como impedir. Isso sim é que é suspense e era o que Hitchcock sabia fazer melhor. E nem por isso foi reconhecido pela Academia.

Hitchcock já havia recebido 3 indicações como diretor por UM BARCO E NOVE DESTINOS, QUANDO FALA O CORAÇÃO e JANELA INDISCRETA, filmes que seriam mais de suspense do que outra coisa. Recebeu sua quarta indicação graças ao seu grande trabalho no impecável PSICOSE que se tornou um de seus filmes mais famosos. Vejam só: o Norman Bates foi o primeiro grande serial killer do cinema. Ele tinha estilo, vestia-se de mulher, falava com sua mãe morta e empalhada, morava em uma casa sinistra e ainda por cima é protagonista de uma das mais famosas cenas do cinema, aquela mesma que você está pensando, quando o incoveniente manda Janet Leigh para o além em pleno banho. Quebrando uma regra básica de nunca matar a atriz principal até o fim do filme, Hitchcock se livra de Janet antes da metade da fita !

Apesar de todas as qualidades, PSICOSE foi ignorado pela Academia. Hitchcock perdeu o prêmio de direção para Billy Wilder, (SE MEU APARTAMENTO FALASSE) e nunca levou um OSCAR para casa, falha que a Academia tentou consertar mais tarde entregando um premio pelo conjunto da obra. Além disso o filme perdeu nas outras 3 indicações, inclusive na de Janet Leigh como Coadjuvante, além de Fotografia e Direção de Arte em Preto e Branco.

As coisas seguiram seu rumo, os filmes continuaram a sair, mas apesar do surgimento de promissores nomes como os do italiano Dario Argento e de George A. Romero (aquele dos zumbies) e Roger Corman (especialista em fitas B), os filmes de horror e fantasia voltaram ao segundo escalão, filmes B, cultuados por jovens em busca de fuga do lugar-comum, subversão ou apenas novas idéias. Mas as coisas mudaram em 1969, quando Stanley Kubrick, o já respeitado diretor de SPARTACUS e LOLITA, lançou sua grande obra-prima: 2001: UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO. Era uma espetacular aventura visual, um drama sobre a busca de algo superior, tinha um conceito à frente de seu tempo e mostrou HAL-9000, o computador mais humano que se tem notícia. O filme quebrou barreiras. Além do aspecto dramático, foi uma ficção séria feita por um cineatas sério, não era mais uma fita sobre calotas presas em arames como discos voadores invadindo a Terra. Era algo perfeitamente tangível, que colocou o homem no espaço antes mesmo de sua primeira viagem à Lua e revolucionou muita coisa adiante.

Novamente a inovação não surtiu efeito. 2001 foi indicado aos OSCARs de Melhor Roteiro, Direção de Arte, Direção e Efeitos Especiais e só venceu nesta última categoria, técnica, na época sem tanto glamour quanto as outras. Em 1972, nova injustiça: LARANJA MECÂNICA, um filme polêmico, alegórico, que previu o crescimento descontrolado da violência e tentativas desesperadas de contê-la, recebeu indicações de melhor Roteiro, Direção, Edição e Filme, mas Popeye Doyle e Buddy Russo atropelaram o jovem que só se interessa em estupro, ultraviolência e Beethoven quando OPERAÇÃO FRANÇA, o filme violento, mas "realístico", de William Friedkin, ficou com todos esses prêmios.

Vejam só o padrão e o preconceito que se criou. O mesmo Friedkin, que conseguiu ganhar um OSCAR com um filme dramático, não o consegiu, dois anos depois com O EXORCISTA que foi um sucesso enorme de público que desmaiava e gritava nos cinemas ao ver uma garotinha vomitar gosma verde, e surpreendentemente de crítica, o que levou a dez indicações e apenas dois prêmios: Som e Roteiro, embora tenha revolucionado o gênero e pela primeira vez tenha dado status de classe A para o terror explícito, com vômito verde, diabo falando palavrões e tudo. Numa frase: O terror ganhou respeito porque passou a dar lucro. E em Hollywood, o dinheiro manda. Aliás, não só lá.

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