20.9.07

Terra Estrangeira

Em um passado não muito remoto, o Oscar de melhor filme estrangeiro já premiou Fellini, Kurosawa, Truffaut, De Sica e Buñuel, mas hoje em dia, com a exceção de Almodóvar, os maiores autores não-americanos estão barrados desta festa. Kiarostami, Nanni Moretti, Takeshi Kitano, Wong Kar-Wai e tantos outros nunca foram indicados e, pelo visto, nunca o serão. Mudou o cinema ou mudou o Oscar?

Mudaram os dois, é certo, mas talvez o fator crucial esteja na diminuição radical da circulação de filmes estrangeiros nos Estados Unidos, fato que contribuiu para tornar o conceito dessa categoria mais estreito. Cada vez mais, o Oscar de filme estrangeiro obedece a padrões baseados em resultados mercadológicos ou em ideais do exotismo estrangeiro. Alguns filmes se encaixam à perfeição nos dois quesitos (O TIGRE E O TRAGÃO, A VIDA É BELA e o FABULOSO DESTINO DE AMELIE POULAIN, por exemplo).

A questão básica é muito simples. O OSCAR é basicamente uma ação para promover o cinema norte-americano em todo o mundo; é um grande e muito bem sucedido trabalho de marketing, e os estrangeiros estão ali apenas para justificar a globalização. Dá a sensação que eles "furaram"a festa alheia.

Eles tomam o máximo de cuidado e criam o máximo de dificuldades para que esse prêmio não venha tomar uma dimensão grande demais, que possa empalidecer o produto nacional. E basicamente, americano não gosta de filme legendado, (o problema das dublagens nunca foram resolvidos a contento) e não se interessam pela cultura estrangeira.

Há várias regras esdrúxulas e complicadas para tornar um filme elegível. Mas não é suficiente. Existe um comitê voluntário que se oferece para assistir os filmes. São divididos em grupos e nem sempre vêem o filme até o final. Assim, o filme que começa lento ou tem narrativa arrastada é logo descartado (Foi o caso de ABRIL DESPEDAÇÃDO E CINEMA, ASPIRINAS E URUBUS). Este comitê é que escolhe os finalistas , e isso explica porque há um numero tão notável de filmes famosos que ficaram de fora, por vezes absurdamente. Detalhe: Escolhidos os finalistas, qualquer membro da Acadêmia pode votar desde que prove que viu os cinco filmes indicados.

Mas enfim...A corrida pelo OSCAR 2008 está a pleno vapor e o Brasil têm uma ótima safra para concorrer esse ano: O ANO EM QUE MEUS PAIS SAÍRIAM DE FÉRIAS, O CHEIRO DO RALO, CIDADE DOS HOMENS, O CÉU DE SUELY e, correndo por fora ANTÔNIA, A GRANDE FAMÍLIA, Ó PAI Ó. "O ANO..." têm o melhor perfil para concorrer. É um filme singelo, visto pelos olhos de uma criança, algo que sempre desperta interesse. Pesa o fato, também, de ter concorrido em Berlim.

Além disso, geopoliticamente, nenhum filme da América Latina foi consenso esse ano, algo que fortalece mais ainda os filmes nacionais. A Argentina deve indicar EL OUTRO, de Ariel Rotter e o Uruguai têm EL BAÑO DEL PAPA - um filme de boas repercussões em Festivais. O México têm dois filmes bem cotados: SILENTE LIGHT, de Carlos Reygadas e EL BUFALO DE LA NOCHE, de Jorge H. Aldana.

Todavia, os cinco finalistas do Oscar de Filme Estrangeiro devem sair mesmo da Europa e Ásia. Mesmo que o genial LE SCAPHANDRE ET LE PAPILLON, com uma interpretação avassaladora de Mathieu Amalric tenha sido desclassificado, a França é favoritíssima no pleito. Conta com LA GRAINE ET LE MULET, de Abdellatif Kechiche; LA VIE EN ROSE, de Olivier Dahan; LA FAUTE À FIDEL, de Julie Gavras e LES AMOURS D´ASTRÉE ET CÉLADON, de Eric Rohmer para disputar seu 10º Oscar.

Palma de Ouro em Cannes, a Romênia deve certificar sua ótima fase, emplacando sua primeira indicação com 4 MONTHS 3 WEEKS AND 2 DAYS. A Alemanha deve tentar o "bicampeonato" com o espetacular THE EDGE OF HEAVEN, de Fatih Akin, embora conte também com YELLA, de Christian Petzold. Depois de Veneza, a Rússia vê em 12, de Nikita Mikhalkov, uma chance de emplacar seu 5º Oscar.

Por fim, a China têm uma doce decisão: Ficar entre o óbvio Leão de Ouro de LUST CAUTION (Ang Lee) ou arriscar com THE SUN ALSO RISES, de Wen Jiang.

2 comentários:

Gustavo H.R. disse...

Apesar de ser certo tratar-se de um prêmio estadunidense da própria indústria cinematográfica para seus próprios pares, por vezes eles tomam decisões admiráveis.
Que pena, porém, que eles relutem em deixar o Oscar assumir uma abrangência global - eles só fingem que é, com indicações técnicas a grandes hits vindos de fora dos EUA.

Anônimo disse...

Será que o Brasil ganhará seu primeiro Oscar nos próximos anos? Acho um absurdo que nossa produção nunca tenha levado uma estatueta, enquanto que países que não tem a mínima cultura cinematográfia já foram premiados.

Se fosse eu que escolhesse, mandaria "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias" como representante do Brasil, acho que o filme pode chegar até a ser indicado. Adoro "O Céu de Suely" e "O Cheiro do Ralo", mas acho que não são para o gosto da Academia. Contudo, soube que "Tropa de Elite" está na lista de pré-selecionados. Com a polêmica que está causando, com certeza deve ser o escolhido.

Abraço!

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