22.2.07

Babel de Apostas

No inicio da temporada de prêmios, tudo indicava que a inevitável polarização de todo ano seria entre "Dreamgirls" e "A Conquista da Honra". Escrevi até que estes dois polos tinham um sabor de nostalgia, em busca, talvez, de reflexões sobre o presente. Afinal, seria a disputa, em pleno 2007, entre dois dos gêneros mais clássicos do cinema: o musical e o filme de guerra.

Os dois primeiros favoritos estão fora de jogo para o principal Oscar, melhor filme. Espero ver "Dreamgirls" ganhar ator e atriz coadjuvante, melhor canção e pelo menos uma estatueta técnica (aposto em mixagem de som). São quatro de suas oito indicações. Nada mau, mas também longe de ser espetacular. "A Conquista da Honra" está fora. Qualquer coisa que o (magnífico) "Cartas de Iwo Jima" levar será lucro, mas dificilmente Melhor Filme.

Para a categoria principal, vejam só, a disputa está em dois títulos que, em setembro, as pessoas descartavam: "Pequena Miss Sunshine" (pequeno demais, estreou no primeiro semestre, ninguém se lembra mais dele, é "tipo Sundance"); e "Os Infiltrados", que a Warner quase que escondeu por "não ser filme para prêmio".

Ironias de Hollywood...

E irônicamente, Dreamgirls fez história: embora no passado vários filmes tenham tido múltiplas indicações sem uma para melhor fime, "Dreamgirls" é mesmo o primeiro dos 79 anos do Oscar a ter o maior número de indicações num ano "menos a que realmente pesa..."

E embora, de longe, a gente tenha a impressão de que está tudo decidido, de perto a realidade é outra. Para todos os estrategistas e divulgadores esta é uma das disputas mais abertas dos últimos anos, sem nenhum grande favorito e com apenas a mais tênue das polarizações entre "Os Infiltrados" ("Martin Scorsese em sua melhor forma!" era o tema da sua campanha) e "Pequena Miss Sunshine" ("Lembre-se de como este filme fez você sentir!", era seu slogan). Mas o consenso é que a mais leve das oscilações num grupo de votantes pode ter colocado vários azarões no páreo, na última hora - vejam, por exemplo, como mudou a dinâmica do favoritismo de "Babel" para "Infiltrados" e de "Dreamgirls" para "Sunshine", nos dias antes do encerramento da votação.

Daqui eu já digo que o Oscar 2007 já tem um grande vencedor: o cinema latino, especialmente o mexicano e espanhol. O simples volume das indicações mostra que mais uma porta se abre para outros nomes, outros trabalhos e outras visões, a exemplo do que já ocorreu com o cinema britânico, australiano e asiático.


Voltando às atenções para quem está na lista, dá para dizer com uma certa segurança que não existe um favorito incontestável. É bem verdade que o recortado painel multicultural proposto por Alejandro González Iñarritu em "Babel" ganha certa vantagem em relação aos outros concorrentes. Vencedor do Globo de Ouro, do Festival de Cannes e segundo filme em número de indicações (Sete), o longa era apontado como provável vencedor por críticos e especialistas. Atenção: provável.

Explicação: olhando para trás, nas duas últimas edições, os favoritos perderam para produções, que, até às vésperas da premiação, não pareciam ameaçar a vitória dos prediletos em bolsas de apostas. Em 2005, "Menina de Ouro", de Clint Eastwood, derrubou "O Aviador", de Martin Scorsese. Ano passado, o independente "Crash", de Paul Haggis, surpreendeu "Brokeback Montain", de Ang Lee. Lobby e marketing por parte dos estúdios na reta final do Oscar podem mudar a história da noite de premiação.


Então pode acontecer absolutamente tudo na corrida: A Academia pode fazer de "Os Infiltrados" um grande pedido de desculpas por tantos anos sem premiar Martin Scorsese, mas será que uma vitória como diretor já não seria suficiente para esse perdão? Ou eles podem ainda premiar "Cartas de Iwo Jima" só para ver o Clint Eastwood, que eles amam, e o Steven Spielberg, outro adorado, subirem juntos ao palco. Mas um longa em japonês ganhando o Oscar de melhor filme? Aliás, um longa em língua estrangeira ganhando o Oscar de melhor filme? Seria inédito. Além disso, é pouco provável que a Academia dê o prêmio a Clint Estwood dois anos depois de seu "Menina de Ouro" levar as estatuetas de Melhor Filme e Direção.

Mas eles estão cheios de alternativas: podem ainda ir de "filme sério" e escolher "Babel", mas já não foram de "filme sério" no ano passado? Nisso, que tal um filme sério com um quê clássico como "A Rainha"? Ele tem indicações de direção, atriz e roteiro, o que reforça suas chances e ainda teve uma surpreendente inclusão em figurinos, o que mostra a vontade de premiá-lo. Seria uma saída inteligente? Ou, como já aconteceu em 1981, quando "Carruagens de Fogo" ganhou de "Reds", ou em 1989, quando "Conduzindo Miss Daisy" derrotou "Nascido em Quatro de Julho", a Academia pode muito bem escolher o filme indie, família, mais fofinho, que no caso seria "Pequena Miss Sunshine".

A comédia independente dirigida pelo casal Jonathan Dayton e Valerie Faris tem forte apelo entre o público. Além disso, conquistou o PGA Awards de Melhor Filme e o SAG de Melhor Elenco, desbancando os grandes "Babel", "Os Infiltrados", "A Rainha" e "Dreamgirls". O prêmio oferecido pelo Sindicato dos Produtores Americanos tem servido como ante-câmara para o Oscar. Em 17 edições, o vencedor do PGA se repetiu na maior premiação do cinema mundial por 11 vezes. Além disso, seus integrantes também votam no Oscar.

Mas e "Babel"? Tem seus fãs, inclusive a turma da Time Warner que apostou todas as fichas do filme em suas principais revistas (a Time e a Entertainment Weekly). A ala de oráculos onde ponho mais fé discorda. E eu vou além: considerando que "Babel" é a terceira probabilidade, de quem tem mais chances de tirar votos? Da doçura de Sunshine ou da crueza de Infiltrados?

Fonte: CorreioWeb (Sinval Neto), HollywoodWatch (Ana Maria Bahiana), OscarBuzz (Chico Fireman) e Film Experience (Nathaniel)

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