25.2.07

E o Oscar vai... para quem?

'É o ano dos hispânicos', diz Iñárritu, diretor de Babel, que está na lista dos premiáveis desta noite

O resultado do ano passado deixou os produtores escaldados - quando a escolha de melhor filme prometia acontecer como numa disputa de cara ou coroa, entre "Capote" e "O Segredo de Brokeback Mountain", eis que a moeda caiu em pé e o vencedor foi o azarão "Crash"". Assim, na noite de hoje, quando começar a transmissão da 79ª entrega do Oscar, no Kodak Theatre, em Los Angeles, toda cautela será pouca. Afinal, os cinco finalistas agora apresentam importantes restrições.

"Babel", de Alejandro González Iñárritu, aparece com ligeira vantagem por sua dramaticidade e grandes interpretações, mas a violência da vida e a relação fortuita entre pessoas de diversas nacionalidades têm um verdadeiro significado? A mesma questão ronda "Os Infiltrados", bem-vindo retorno de Martin Scorsese ao seu estilo habitual de filmar. "A Rainha", de Stephen Frears, tem classe, bom gosto, harmonia, mas onde ficou a naturalidade? E "Pequena Miss Sunshine", escolhido pelo sindicato dos atores (o maior colégio eleitoral da Academia), é uma gracinha, peculiar, bem-intencionado, mas onde ficou a abrangência? Finalmente "Cartas de Iwo Jima", de Clint Eastwood, parece reunir tudo: competência, abrangência, ambição, significados profundos. Só faltou uma boa arrecadação nas bilheterias, pecado capital na bíblia dos grandes tubarões da indústria cinematográfica.

Em Los Angeles, as apostas agora são feitas à boca pequena. O mesmo não pode ser dito a respeito das escolhas individuais, quando os favoritos devem realmente levar a estatueta. Helen Mirren, por exemplo, já deve ter preparado uma variante dos discursos que fez quando venceu todos os prêmios em que concorria como melhor atriz por "A Rainha". Também é esperado um mais articulado Forest Whitaker, favorito como ator por "O Último Rei da Escócia", a fim de evitar o vexame de murmúrios que marcou seu agradecimento quando recebeu o Globo de Ouro.

Entre os coadjuvantes, a julgar pelas diversas premiações que antecederam o Oscar, a dupla de "Dreamgirls" (filme com mais indicações, oito), Jennifer Hudson e Eddie Murphy, são os virtuais vencedores. Já o melhor diretor sairá de uma concorrência acirrada, com ligeira vantagem para Martin Scorsese - mais pelo conjunto da obra, acreditam alguns, que pela real primazia de seu trabalho em "Os Infiltrados".

O multiculturalismo é outro importante destaque do Oscar, em cuja premiação o sotaque latino predomina em pelo menos 20 indicações ao prêmio. 'É o ano do grupo dos hispânicos', assegura Iñárritu, que lidera a lista formada ainda pela espanhola Penélope Cruz, primeira atriz candidata ao Oscar por um trabalho em castelhano, os mexicanos Guillermo Arriaga (roteiro original), Adriana Barraza (atriz coadjuvante) e Guillermo del Toro (filme estrangeiro), o argentino Gustavo Santaolalla (trilha sonora), além de Alfonso Cuarón, cujo "Filhos da Esperanç"a disputa os prêmios de melhor roteiro adaptado, montagem e fotografia. "O Labirinto do Fauno", aliás, de Guillermo del Toro, surpreendeu ao sair indicado para seis prêmios - além de melhor produção estrangeira, concorre a roteiro original, maquiagem, música, fotografia e direção artística.

A babel de idiomas é reforçada com a presença da japonesa Rinko Kikuchi, indicada para melhor coadjuvante pelo filme de Iñárritu, além da possibilidade de "Cartas de Iwo Jima" vencer como melhor produção do ano. Se isso acontecer, será o primeiro trabalho dos Estados Unidos filmado predominantemente em outro idioma (o japonês) a ser eleito como melhor filme. Por fim, há a presença ainda de "Apocalypto", polêmica história dirigida por Mel Gibson totalmente falada na língua maia com três indicações (maquiagem, som e edição de som).

Em meio a muitas possibilidades e poucas certezas, alguns estudiosos aproveitam para levantar teorias. É o caso do historiador Emanuel Levy, autor de um livro sobre a trajetória do Oscar. Para ele, o vencedor de melhor filme não é necessariamente a produção mais bem acabada ou com alguma inovação artística, mas aquela que oferece uma importante mensagem, seja política ou humanitária. É o que justifica, por exemplo, a vitória de "Gandhi", em 1982, derrubando "Tootsie", "ET", "O Veredicto" e "Desaparecido". Também foi o caso de "Crash", no ano passado. 'Em vez de votar em Brokeback Mountain, os eleitores (a maioria é masculina) preferiram as relações internacionais da América', disse. 'Como a entrega do Oscar é um evento global, a Academia trata a premiação mais como um evento sociológico que como fenômeno artístico.' Assim, seguindo sua própria teoria, Levy aponta uma ligeira vantagem de "Pequena Miss Sunshine". A confirmação, porém, só terá quem ficar acordado até a madrugada de amanhã, quando terminar a transmissão.

Por Ubiratan Brasil - Estado de São Paulo

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